Os meninos da colónia

Tão pequenos e lá vão eles de mala na mão. Lá dentro não levam mais do que um sabonete e as poucas mudas de roupa que o dinheiro permite. Mesmo assim, já levam mais umas só caso seja preciso. Entram na camioneta que os leva lá para longe, para umas semanas de férias. Lá vão eles, miúdos pequenos a deixar os pais e os irmãos na terra e a partir a caminho da praia. 

Quando lá chegam, são levados para o banho. Entregam-lhes o bibe que é a farda oficial. Azul aos quadrados branco para os meninos, vermelho aos quadrados brancos para as meninas. Têm direito a um fato de banho que será seu nos próximos dias. 

- Temos de arranjar maneira de sair daqui - pensam alguns deles quando a saudade da família fala mais forte. Nem o azul do mar é capaz de sossegar aqueles corações pequeninos que nunca ficaram longe dos seus.

Não arranjam como sair, mas não deixam de pensar nisso todos os dias.

Fazem o caminho até ao mar em fila indiana, muito bem alinhados uns atrás dos outros. Muitos deles pisam areia daquela pela primeira vez. Não é como a terra lá da aldeia que suja os pés quando jogam à bola. É mais áspera. Quando chegam à beira mar encontram umas pedras muito polidas que escondem conchas que eles nunca tinham visto.

E ficam ali na areia todos juntos. Cercados por paus de madeira e cordas que marcam o espaço onde devem ficar. Não podem sair dali. Só podem ir à água quando assim lhes for dito e nem todos podem ir. Muitos já ouviram falar no mar, outros já não são novatos nestas andanças, mas a sensação da brisa do mar, húmida e salgada, a refrescar-lhes a cara é sempre única.

Ali estão os meninos tão pequeninos e já com tanto para contar.

Têm direito a lanche na praia. As senhoras chegam com as cestas à cabeça cheias de pão para o lanche. Um para cada um, para matar a fome que o ar da praia dá.

Quando chega a hora de voltar, lá vão eles todos juntos, em fila indiana, a subir a rua. quando chega a hora da refeição o refeitório fica cheio com as vozes miudinhas. Lá pelo meio, há um que vai cantarolando para entreter os restantes. É o espetáculo a que têm direito. No prato levam comida que lhes parece estranha, que às vezes não lhes sabe tão bem como as sopas que a mãe fazia, mas que comem para confortar o estômago que já reclama por alimento.

Quando a noite chega, recolhem às camas à hora certa. O relógio dá o sinal para recolher e cada um deita-se na cama que lhes foi atribuída. Estão marcadas com um número que passa a ser o seu. 

Assim se passam os dias com vontade de voltar para casa. Se tiverem sorte, pode ser que uma excursão traga caras conhecidas para os visitar. 

- Olha quem está aqui - dizem as visitas inesperadas quando os encontram sentados na areia no espaço marcado pelas cordas.

E assim se mata um bocadinho da saudade que aperta aqueles corações.

Dias de praia. Com mar e sol. Com os colegas da sua idade, uns mais sabidos do que outros, que é assim a vida.

Depois voltam a casa. Quando os seus dias de férias terminarem. Fica o bibe e o fato de banho para trás, a cama desfeita com o número que era seu. Voltam à sua terra e aos seus e o coração fica cheio. Na mala levam o que restou do sabonete, as roupas desarrumadas e uma casinha de barro para oferecer aos pais. 

Os meninos estão de volta na mesma camioneta que os levou.


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