Sobre o teu manto

 Agosto. Meu querido mês de Agosto. Aquele com que sonhamos o ano todo. Que esperamos que volte como sempre voltou. Que às vezes nos deixa de coração nas mãos sem saber como será daí a um ano, mas que este ano tínhamos a certeza que seria em grande. Mas certezas, já devíamos saber, só temos quando já as vivemos. 

Assim, no desalento que se tornou este Agosto, não se guardaram moedas para as bolsas e Nossa Senhora escapou-se ao beijo de todos os anos. É saber se há benção que mesmo assim nos calhe em sorte. Quando não se abriu a porta à devoção, quando não se ofereceu a mesa a quem andava pela rua. 

Chegou a sexta, a tão almejada, que costuma estender-se até que chegue a manhã de quarta, e deixou-se por ali ficar. As ruas no dia-a-dia normal e é como se o mundo se esquecesse que este não era mais um dia como os outros. Este era o dia. O primeiro. 

A carne que devia estar a tomar sabor no alguidar e o arroz à espera que se fizesse doce. O coelho, que outrora era caçado e que agora vinha de quem o tinha, pronto a ir para o tacho e a família prestes a voltar. O meu Agosto. Com o domingo a começar cedo e a acabar tarde enquanto o corpo cedia ao calor e ao cansaço. O resmungar que se tornava por certo e que não se ouviu. Toda uma outra vida onde os foguetes não subiram e o bombo não tocou. Onde o músico não precisou de correr atrás da banda, ainda meio zonzo na noite anterior. 

O arraial ficou vazio. Não há rifa nem mais um copo. Nem sequer a boca cheia de açúcar das farturas acabadas de fritar. As ruas não se encheram e não voltámos a ver quem só aparecia de ano a ano. 

Agosto prepara-se para ir. Sem pompa nem circunstância, deixando a aldeia como foi o ano todo. 

Imaculada. Rainha dos céus. Que o próximo Agosto de traga com ele.



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