Na saúde e na doença
Não havia vestido comprido. Havia um fato em tons claros que depois do casamento serviria de fato de Domingo. Era verde água, saia abaixo do joelho e casaco com botões até ao pescoço. Discreto como se quer para quem sobe ao altar e decente como se exige a todas as mulheres.
A festa já estava pronta. A tia tinha dispensado a adega para fazer receber os convidados, as mesas estavam postas, os coelhos arranjados e as galinhas já tinham sido depenadas e transformadas em canja.
O pão estava no forno, os coscorões já estavam fritos e o arroz-doce estava a arrefecer nas grandes travessas. O aroma das carnes misturava-se com a canela e o limão, cheirava a festa.
Os garrafões de vinho estavam cheios que não há paródia sem vinho para aquecer os corpos e para regar o coelho que ainda tem de ir a guisar para estar pronto na altura do almoço.
É dia de festa. O casamento é sinal de liberdade, se é que assim se pode chamar. Ninguém sai de casa dos pais a não ser de aliança no dedo e com a bênção do santo padre. São as regras que se sabem de boca. Onde é que já se viu uma menina viver sozinha? Só se for porque o marido está a trabalhar fora ou porque foi chamado para a guerra. Se não tiver marido, trata dos pais que é essa a sua função.
Mas hoje é dia de festa e mais logo temos bailarico que o homem vem aí tocar concertina para animar os convidados.
Já se ouvem os sinos a avisar da cerimónia. A noiva sai de casa pelo braço do padrinho e vai a pé até à igreja. Os convidados vão atrás dela em romaria. Quando chega à igreja é o pai que a leva até ao altar. Começa a nova vida com as mesmas responsabilidades.
Na saúde e na doença, todos os dias da vossa vida. Que assim seja como manda o santo padre e como Deus quer. Na saúde e na doença. Até que a morte os separe.
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