A força da idade

Eram miúdos. Quer dizer, tinham cara disso, mas o corpo já contava com muitos anos de trabalho. Andava tudo pelas mesmas idades e todos conheciam a mesma vida. Trabalhavam de dia e jogavam quando calhava. Quando havia tempo, se é que o chegavam a ter. Treino marcado nas noites em que o pavilhão estava livre, ali uma hora contada até ao último minuto. Um bocadinho mais quando tinham sorte porque depois do campeonato começar não havia treino para ninguém. Eles também não precisavam. 

Jogavam por sua conta e risco a defender a nome do café onde a juventude da terra se juntava para mais um cerveja a acompanhar a conversa. E lá iam onde os chamavam. Dois torneios no mesmo dia e nem um queixume por parte dos jogadores. Quem divide o campo com os amigos que cresceram na porta ao lado não se lembra de queixas. 

Faziam o primeiro jogo e, ainda com os músculos a latejar, lá se metiam nas motas e no carro, para quem tinha a sorte de o ter, e iam ao próximo. Mais um campo, a mesma equipa ao pontapés noutra bola e a terminar o jogo em festa. 

E ali, sem honras de notícia de jornal, assinavam contrato com as equipas das terras ali à volta, que lhes viam os dotes. O trabalho de segunda a sábado e o jogo ao domingo mais os treinos durante a semana. Sem descanso. Mais um pontapé na bola, mais dois jogos ou três no mesmo dia, mais um joelho a ir ao chão sem ver médico que a malta é forte e aguenta bem. As dores ficam para mais tarde, quando a idade também pesar. Por agora, é a juventude a dar força a corpos que nunca se queixam. 

Comentários

  1. Mais um texto que aguça a curiosidade a cada frase que se lê 👏👏👏👏👏

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  2. Muitas vezes, é mesmo por amor à camisola...

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    1. É mesmo por amor à camisola e pelo convívio com os amigos de sempre.

      Beijinhos :)

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