Aos que já não estão
Depois do trato em vida vem o acompanhamento na morte.
O descanso eterno de uns leva ao cumprimento terreno das tradições que não interessam a quem já não está e que lava a alma de quem fica.
No dia de finados, a romaria é ao cemitério. Novos e velhos, com mais ou menos dores nos ossos, lá vão eles até à última morada, que um dia também será sua, visitar os seus que já se foram. Cumpre-se todos os anos, a missa, a ida ao cemitério, o pesar por aqueles que ainda nos fazem tanta falta.
Levam as flores nos braços e um saco com a tesoura, a faca, a vassoura pequena e uns quantos trapos. É o lavar da casa, é a visita a quem já não responde às perguntas.
Quando chegam à campa dão um beijo na fotografia dos seus, cravada no mármore frio, e conversam com eles. Contam-lhes que os netos estão bem, que a filha anda com umas dores estranhas, que o trabalho tem dias para esquecer.
Tiram as flores velhas da jarra, já estão amarelas e secas, e arranjam as que trouxeram. Cortam os pés, põem verdura e fazem o melhor que sabem.
Vão buscar o caneco de plástico azul e enchem-no de água que deitam sobre o mármore frio. Varrem a sujidade, arrancam as ervas que insistiam em ir aparecendo, passam com o pano para que fique a brilhar.
Ajeitam o ramo de flores e voltam a colocar no sítio devido e ficam ali, a olhar para a pedra e para a fotografia de quem já tiveram ao seu lado. Doí-lhes a alma com uma saudade que o tempo não cura nem atenua, só ensina a suportar.
Despedem-se como nos despedimos de um amigo que encontramos no café.
- Até para a semana, se Deus quiser.
O coração vai apertado e a alma lavada com o dever cumprido.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarBonito texto
ResponderEliminarParabens Vania
Beijinho /Linoca
Obrigada :)
EliminarBeijinhos
Bom dia Vânia e parabéns por mais um retrato da nossa terra. Muito bom o texto.
ResponderEliminarPareceu-me ver por aí alguém, tão real é a descrição,
Bj
Maria Helena Sacadura Simões
Obrigada :)
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Bom dia Vânia e parabéns por mais um retrato da nossa terra. Muito bom o texto.
ResponderEliminarPareceu-me ver por aí alguém, tão real é a descrição,
Bj
Maria Helena Sacadura Simões