Lugar à mesa de trabalho

Vão a caminho do campo para começar mais um dia de trabalho. O sol ainda está baixo e o calor nem se faz sentir. Vão descalços e com roupas pesadas, chapéus de palha e bonés, lenços a tapar o cabelo. Dentro do saco levam o farnel para mais tarde. Um almoço magro, mas suficiente para o que o corpo está habituado. Vai ainda em cru, à espera da fogueira que se vai acender quando a hora se aproximar.

O pão seco e fora de tempo e o bacalhau já passado pelas mudas de água que lhe eram devidas, esperam pela hora de se fazerem ao fogo. 

Os dias não são de abundância, são de trabalho duro. Aperta-se mais o cinto, remenda-se mais uma camisa e enche-se a boca com aquilo que se pode comprar ou com aquilo que nos deixaram pôr na conta da loja que já vai longa. O que interessa é ter algo para dar alento ao corpo e enganar a fome e o estômago.

Quando chega a hora já está o sol a pique e o dia de trabalho já vai a meio. O corpo está cansado, as mãos estão calejado e o suor acumula-se por baixo do lenço. Procura-se uma sombra e os trabalhadores juntam-se à volta da fogueira. 

Tiram o almoço e preparam-se para o manjar. Com a navalha que serve de companhia cortam o pão que esfregam com o alho que entretanto descascaram O aroma forte do picante já se faz sentir. A fatia de pão é regada com um fio de azeite daquele feito com as azeitonas que apanharam. 

O bacalhau e o pão vão ao lume. A lenha estala e vão atiçando o fogo para que não se apague. Quando enfraquece já o pão e a posta de peixe têm as marcas da grelha.

O azeite aromatizado com o alho rega o bacalhau que a acompanhar com o pão com o mesmo tempero.

Come-se com a mão, sem pudor ou etiqueta que valha naquele momento. Mata-se a fome com o petisco pobre dos que pouco têm e que hoje em dia se tornou pitéu de quem parece ter uma vida melhor.


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