Mãos ao ar

- Podemos usar a Adega do Manel.

E estava marcado. Sem mais conversa ou discussão, já havia sítio para o encontro. Falaram com mais uns quantos e a palavra passou a correr de boca em boca. O encontro estava marcado para daí a umas noites na  adega do Manel. As ideias já começavam a nascer na cabeça de uns e outros. Era assim que udo começava.

Cada qual levava o que podia e vestia-se como conseguia. Não havia regras.

Um trazia um pão de ló outro uns pasteis de bacalhau e assim, por uns e outros, tratava-se do estômago dos que por ali se juntavam. A bebida também estava garantida que não podiam ficar a seco.

Já era noite escura quando começavam a chegar. Havia de tudo: criadas de servir, gente do campo e matrajonas. Era o que dava para desenrascar com o que havia lá por casa. O importante era haver animação. 

Depois apareciam os caras tapadas. Uma visão assustadora para quem os encontrava no meio da rua. Cara escondidas atrás das meias enfiadas na cabeça e com três buracos cortados para deixar ver e respirar. Não se conseguia adivinhar quem se escondia do outro lado. Vestiam tudo o que apanhavam à mão: calças, saias, luvas, camisolas, casaco e oleados. Na mão traziam um cajado pesado que impunha um certo respeito. Um pau que marcava o passo com que avançavam. Ninguém sabia quem eram, mas sabiam que eram presença garantida sempre que este dia chegava.

Era noite de festa, rapazes e raparigas juntavam-se e festejavam à sua maneira aquele dia em que tudo era permitido e todos queriam ser outros que não os próprios. 

Todos os  anos era assim. Estava feito o Assalto de Carnaval.

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