Soprar as velas

São mais de vinte a correr por todo o lado numa casa onde não abunda espaço. Vieram todos: os colegas da sala de aula e os outros meninos da escola. São todos amigos, daqueles que jogam à bola no recreio e que saltam à corda ou brincam à linda falua que vem lá de Belém.

Agora estão ali, a falar excessivamente alto e a correr de um lado para o outro enquanto desarrumam tudo o que encontram pelo caminho. Afinal um deles faz anos e isso é só mais uma desculpa para se juntarem todos em corridas sem fim e jogos das escondidas. 

A mesa cheia de comida não lhes desperta interesse. São os rissóis e os pães com fiambre e queijo, as tortas dancake de chocolate e as que têm recheio de morango, os bolos de aniversário com bonecos e campos de futebol. Eles passam e petiscam, roubam uns sugos ou uns caramelos de fruta que estão espalhados pela mesa e seguem caminho. Há muita brincadeira à espera.

Depois o tempo passa, os meninos pequenos crescem e as correrias da festa dão lugar à música que toca na rádio e onde se aproveita a balada da moda para trocar uns passos de dança com aquela menina a quem já se piscou o olho e com algum incentivo por parte dos pais que acham sempre piada aos miúdos de meio metro a fingir que são adultos.

Vai chegar uma altura em que as festas já nem se fazem em casa com os pais e as avós a deitarem um olho aos miúdos, mas por enquanto ainda estão ali a gritar, vermelhos e transpirados de tanto correr. A casa fica vazia quando a noite já apareceu. Os pais passam para ir buscar os filhos e ficam copos e guardanapos espalhados pelos cantos e um aniversariante muito cansado de tanto brincar.

Foi um dia em grande, cheio de tudo o que é bom e que deixou recordações que daí a uns anos vão servir para entrar em conversas que começam com um "No meu tempo". Nesse tempo onde tudo era sempre melhor mesmo que não fosse bem assim.





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