Benzer a menina

A menina quebrou. Sentou-se e deixou-se ficar. Não disse uma palavra que fosse e nem se mexeu como era seu costume.

Ali estava. Quieta e calada como nunca a tinham visto. Logo ela que parecia ter energia desde que acordava até fechar os olhos. Agora abria a boca num desespero sonolento que não dava em sono por muito que estivesse metida na cama. Parecia fora do mundo e de si.

Encostaram a mão à testa e espreitaram pela boca aberta. Não havia justificação para a apatia que lhe dominava o corpo. Nem febre nem garganta inflamada.. Perguntavam-lhe o que lhe doía e a resposta era sempre a mesma: "Nada" e nada justificava aquele quebranto que a invadia e preocupava quem a  via assim.

Foi aí que a mãe, deixando a avó de olho na criança, saiu porta fora com destino definido, mas sem dizer ao que ia. Bateu à porta que já conhecia e do lado de lá respondeu-lhe uma voz que já conhecia a ansiedade de quem lhe batia à porta.

- É a menina - disse assim que abriram a porta.

E do lado de lá a porta abriu-se sem que se ouvisse mais perguntas. Não era preciso mais nada além do que já se sabia, o porquê de ali estar estava mais do que explicado.

Começou sem mais demora. O prato com a água e o azeite pronto e a reza que era impossível de entender. Uma ladainha quase cantada .

- Está muito atacada. Está atravessada -  dizia no meio das rezas enquanto o azeite dançava com a água.

E a mãe voltava à filha. A ser o colo daquela pasmaceira em que tinha ficado presa e a esperar que aquele quebranto passe.

Passa mais tarde, sem aviso prévio, tal como apareceu. Num momento está desfalecida na cama e no outro corre pela casa. E a mãe benze-se enquanto respira de alívio, nada daquilo lhe parece normal.

- Ontem só melhorou ao final do dia.

- Foi a última vez que a benzi - respondem.

E a mãe, de coração mais descansado, pensa que foi na mesma altura que o quebranto deixou a sua casa. Abençoada água a dançar com o azeite ao som da ladainha da reza.

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