O regresso às origens

Ofereceram-lhe uma sachola que lhe chegava à cintura. Uma miniatura comparada com a enxada que os adultos levavam para o terreno e que ainda tinha restos de lama seca.

Ela, miudita com excesso de energia, seguia-os sem saber se as folhas verdes que cresciam no meio da lama eram  ervas ou legumes. 

Era  daquela terra  que  vinha  o  alimento para a família. Aquelas couves que se transformavam em cozido e aquele feijão-verde que acabava numa terrina de sopa de pão. Era a alimentação saudável antes de ser moda, o biológico antes da palavra andar na boca de uns e de outros.

São as mãos calejadas da família que tratam a terra, que arrancam as ervas e limpam as pedras, para que dê o fruto que mata a fome. É um acto de amor na rudeza daquela vida.

As cebolas penduram-se no tecto depois de colhidas, as batatas acumulam-se num barracão sem luz, as favas são arranjadas em alguidares no degrau da porta. 

Comida sem corantes nem conservantes, sem açúcar adicionado e com o mínimo de gordura. Tal como defendem os livros e as teorias hoje em dia. Natural. Um prato de couves cozidas em água e sal e que confortam o estômago quando ainda estamos na hora do lanche.

A vida dura da qual muitos fugiram torna-se a regra na boca dos que defendem o regresso às origens, à simplicidade. O campo invade a cidade sem que os prédios se desfaçam.

E para a menina que ofereceram a sachola, aquela é a vida que conhece.

Os sabores são mais intensos, o cheiro da hortelã solta-se só com o vento e o piri-piri é uma ameaça quando a boca fala o que não deve.

A horta existe, as mãos calejadas é trabalho, os botins são para estar carregados de lama. Uma vida calma e cheia de trabalho. Os frutos arrancados da árvore e esfregados na roupa, os legumes  que sabem a terra,  a menina  que  corre na  horta que se tornou no seu recreio pessoal.  

A  vida saúdavel  e  pura sem  rótulos  da moda  ou das redes sociais.

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