Chita à chuva
- Toda gente sabe que o pano fica de molho antes de costurar. Há sempre uma alma iluminada que acha que só ela encontrou a fila em que o Senhor estava a distribuir a inteligência. E, naquele dia, era uma das almas que se recolhia debaixo de telha e nem uma gota lhe tocou. Se não fosse assim, eu queria ver. Aliás, assim que a chuve deu uma aberta, era vê-la a correr rua acima. Quando voltou a aparecer, a saia de festa tinha dado lugar à de todos os domingos, mas os outros é que não sabiam o que faziam. Como se, em pleno Agosto, alguém conseguisse prever que Deus ia mandar chuva na altura em que saía o primeiro andor. Estava ali o povo todo reunido, de terço na mão e a Ave Maria na ponta da língua, quando começou a cair aquela chuva miudinha que não tardou a engrossar. Aí é que foi. Já não havia terço nem reza. Era a carteira a tapar a parte de trás e mão a puxar a da frente que ninguém queria mostrar as vergonhas num sítio daqueles. Era por isso que este ano a roupa estava de molho. Nov