Vamos baldear

A aldeia faz-se das suas gentes. Não das suas riquezas, que essas não as teve na sua história, mas dos seus costumes. Daquilo que a torna ela. Única. Que só os seus percebem.

Há uma beleza nas casas que se deixam cair. Não pela decadência do que outrora deu abrigo a uma família, mas pelas histórias que as pedras que se vão mantendo ainda contam. Pelos moveis que ficaram esquecidos e apodrecem lá dentro.

A aldeia não se faz dos buracos que se contam na estrada nem das casas onde já não se abrem as janelas. Faz-se do que ainda se recorda, das curvas onde a bicicleta foi mais longe do que nós, das portas que se abriam para um passo de dança aos fins de semana. Das famílias que se metiam no autocarro e lá iam elas para onde fosse a bola ou ver o mar. Faz-se daquilo que é nosso e só nosso. O que não se explica.

Quando Agosto termina é em festa. Assim como Outubro traz a muca à rua para comemorar os seus. Ou os sapatos do rancho que se fazem ao palco em Janeiro. Dos vizinhos que sabem os aniversários uns dos outros e batem à porta com um saco de uvas ou laranjas ou o que houver.

É feita de estradas que parecem não fazer sentido e casas que misturam as décadas do século passado. Isto para quem a vê pela primeira vez. Para todos os outros, os que aqui vivem há mais tempo que conseguem contar e têm a aldeia na pele, são portas que se abrem para receber os amigos, para ver a bola e beber umas cervejas que agora foi o outro que pagou e a seguir sou eu.

A aldeia, por muito que a queiram ver como pequena, é mais do que a vista alcança. Somos todos nós que continuamos com o coração aqui, que crescemos a saber que uma maquia bem que nos pode fazer baldear.




Comentários

  1. Eu mudei-me há mais de uma década para a cidade mas o meu coração continua (e acho que vai continuar sempre) preso à aldeia, onde também por vezes baldeei 😄
    Dora Barros

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  2. Nós agora vivemos no Ribatejo e de vez em quando, quando é preciso, vamos á capital.
    É um previlégio!
    Parabéns Vánia, continue a escrever "Lá pela terra", que leio sempre com gosto.
    Beijos

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