Jantar em família

Sentou-se e esperou pelo jantar. O pai, sentado à cabeça da mesa, serviu-se sem modéstias. Um prato de sopa do que a horta tinha para dar e um bocado de pão já a secar, mas que ensopava a gordura do chouriço e da chouriça que dava sabor ao caldo.

O conduto era pouco. Comprado a contar os tostões e dividido pela familia. Um bocado maior para o pai e os miúdos ficavam com o resto. Quem dava o corpo ao trabalho precisava de se alimentar e o respeito ao senhor da casa não se esquecia.

Os dias mais pequenos obrigavam a acender o candeeiro a petróleo que acabava por aquecer mais do que iluminar. Só se ouvia a colher a raspar no prato e a sopa a ser sorvida sem preocupação pelas boas maneiras. Uma família à mesa e nem uma palavra entre eles. O cheiro do petróleo a queimar, o vinho que o pai parecia fermentar em si e da sopa do jantar misturavam-se naquele barracão. 

Sentada a um canto da mesa, a mãe, calada e de olhos na mesa não fosse alguém perder as estribeiras, fazia de uma caneca de café o seu jantar. O dinheiro, contado até ao último tostão, não dá para tudo.



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