A contar trocos

Todos se apresentavam com o seu melhor traje. Fato de domingo, bem engomado e de colarinhos virados para disfarçar a passagem do tempo e meia dúzia de trocos no bolso.

A casa começava a encher aos poucos. A casa é maneira de falar. Tanto podia ser uma adega como um barracão. O que era preciso era ter espaço para tantos quantos os que quisessem entrar e que ainda desse para uns quantos rodopios. Tinha de ter cadeiras para descansar as pernas quando era preciso e para que quem ficava de vigia pudesse descansar que a tarde era longa. Se houvesse um palco, ou algo que o valha, melhor ainda que o acordeonista ficava melhor lá no alto a dar música a quem se juntava ao baile. 

E a tarde prometia. Era sempre assim. Rapazes namoradeiros e meninas casadoiras. Olhares trocados e sorrisos nervosos que não passavam despercebidos a quem os controlavam. As mães não estavam para ver as filhas serem arrastadas por maus caminhos, era o que faltava. 

Mas depois de tanto olhar, eles lá ganhavam coragem e as convidavam para dançar. Depois, entre uma volta e outra, com a mão a aconchegar a cintura e a face a encontar-se ao ombro, lá se fazia o pedido num sussurro. E assim, à vista de todos, mas longe da má língua alheia, começava um namoro que ninguém sabia bem onde ia, mas que já alguns davam por certo. Os mais perspicazes pelo menos. 

O acordeão continuava a dar o tom à festa e conforme o tempo ia passando, os rapazes começavam a contar os trocos que tinham consigo. De cabeça. Ainda com esperança de fugir ao momento alto do dia, mas havia quem estivesse atento. Tão atento que esperava pela altura em que a sala estava cheia de casais, em que os meninos sussurravam e as meninas deitavam a cabeça no seu ombro. Pelo momento em que as mães se distraiam a conversas sobre a vizinha do lado. 

Era aí que ele subia ao palco e, com o ar de quem goza o parceiro e se diverte com a situação, anunciava:

- Meninas ao bufete. 

Era ver a pista de dança a ficar vazia e o bar a tentar responder aos pedidos das meninas que os pares pagavam sem contestar. Que fossem as meninas ao bufete e que os homens correspondessem aos seus pedidos. 







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