Foi Natal

Há muito que estava decidido que o Natal ia ser em separado. Cada qual na sua casa, na sua bolha e nada mais. Acho que era Agosto e isso já tinha sido falado que mais vale estarmos preparados para o pior. Espírito português, é o que é. Pessimista até ao fim e no fim a ganhar o que de péssimo se pensou.

O bicho não se foi, ficou ainda pior e manteve-se o que em Agosto se falou: cada qual em sua casa.

Foi uma semana a preparar o Natal. A terminar o trabalho, na sala, ao fim do dia e entrar na cozinha para vestir o avental e ir adiantando tudo o que dava para adiantar. 

Não posso dizer que estava radiante no dia vinte e quatro. O dia foi passando e, de vez em quando, lá tinha uma quebra. Raio de bicho este que nos afasta dos nossos e nos rouba abraços. Mas depois vinha a razão: era assim que devia ser, afastados para nos juntarmos quando tudo passar.

Das caixas que nos chegaram com as prendas de Natal, fizemos caixas com um bocadinho do que se pode partilhar desta noite. Pão, bolo, fritos, mais um bocadinho de peru e um tabuleiro de bacalhau. Sem esquecer uma sopa e mais um doce. E tudo chegou ao seu destino. E, à hora marcada, a chamada de grupo onde todos falavam por cima uns dos outros como se estivessem à mesma mesa.

Falámos muito este ano. O telefone e as chamadas de vídeo encurtaram as distâncias e viveu-se o Natal de maneira diferente, mas foi Natal. E isso, nenhum vírus nos vai roubar.




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