Natal dos novos tempos

Tempos houve em que a fogueira se fazia num qualquer largo. Davam-lhe fogo na véspera de Natal e ia até ao Ano Novo a arder. A aldeia ali ao redor da brasa, a atear o fogo quando começava a esmorecer e a aproveitar o calor para dar cor a um toucinho que dava sabor ao pão.

Eram tempos em que havia pouco, mas onde se arranjava sempre espaço para mais um. Agora temos tudo, incluindo espaço, e estamos cada qual no seu canto. Este ano deu-nos a volta aos planos e cá estamos nós. A medir metros de distância e a desejar os dias em que a fogueira acendia. A maior parte de nós nem se lembra desses tempos, ouvimos falar a uns e outros e foi só. Durante algum tempo nem estávamos muito atentos às memórias desses tempos.

- Eram outros tempos - dizíamos.

E agora, com este ano que nos tirou tudo o que tínhamos por certo, queremos esses outros tempos. Esses tempos em que os presentes eram miragem e em que a companhia dos vizinhos era mais do que suficiente para fazer o Natal. Em que o calor da fogueira aquecia o corpo mal agasalhado.

Este ano ficamos com as memórias. Que para o ano se faça a fogueira, o Natal não precisa de mais do que isso. 

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